Nosso time de pesquisa entrou em ação para tentar entender quais são as novas tendências que estão, de fato, surgindo com a pandemia e que vieram para ficar. Foi aí que o termo “Cocooning”, muito conhecido nos anos 80, ressurgiu.
Ele acabou de ganhar força novamente por conta da pandemia e tem tudo para se tornar uma tendência pós-Covid-19.
Não entendeu muito bem, né? Tudo bem, a gente te explica!
Afinal, o que é Cocooning?
No início dos anos 80, a Faith Popcorn, uma consultoria de tendências e Marketing detectou uma profunda mudança na maneira como as pessoas estavam vivendo suas vidas. Acabaram os dias de ficar fora a noite toda festejando, como visto nos anos 70. Os restaurantes tinham mesas vazias no sábado à noite. A TV a cabo transmitia filmes para dentro de casa e a Faith Popcorn descreveu como “o impulso de entrar quando fica muito difícil e assustador do lado de fora. Entrar dentro de uma concha segura, para que você não fique à mercê de um mundo mau e imprevisível – aqueles assédios e agressões, garçons rudes e poluição sonora, crack, recessão e AIDS. O cocoon é sobre isolamento e evasão, paz e proteção, aconchego e controle – uma espécie de hiper-assentamento”.
Uma nova era estava nascendo, a Faith Popcorn a identificou e, em 1981, ela cunhou o termo “Cocooning”, que decolou na cultura popular e acabou se tornando tão conhecido e frequentemente usado que chegou ao dicionário.
Acontece que agora estamos vivendo (forçadamente) algo parecido, mas que fez com que percebêssemos como nossas vidas eram corridas e movimentadas, mesmo com tanta tecnologia para torná-la adaptável a nossa realidade.
A pandemia só acelerou um processo que provavelmente iria acontecer e por isso muitas mudanças que ela trouxe “a força” vão ficar.
Mais casas, menos apartamento
De acordo com um levantamento da imobiliária digital QuintoAndar feito com exclusividade para o Estadão, enquanto a busca por apartamentos e kitinetes ou estúdios caiu 6% e 10%, respectivamente, nos últimos três meses a demanda subiu 8% por casas na rua e 20% por casas de condomínio.
Maior número de cômodos também pesa na decisão. A procura por imóveis com apenas um quarto sofreu queda de 10%, enquanto aqueles com 2, 3 ou 4 quartos tiveram alta de aproximadamente 30%.
Móveis podem ter mais funções
Markus Benz, CEO da Walter Knoll, empresa de móveis de luxo, pergunta com razão:
“Por que uma cadeira de escritório precisa se parecer com uma cadeira de escritório para cumprir sua função? Seria ideal se ela também fosse oferecida como uma cadeira de jantar. A estética e a funcionalidade devem ser combinadas de forma a fazer justiça a essas aplicações híbridas.”
A arquiteta Izaskun Chinchilla recomenda tornar a casa mais dinâmica usando móveis flexíveis: “em vez de um móvel que tenha apenas um uso, como um aparador com o prato exposto, acho que uma divisória móvel, por exemplo, é mais interessante, pois permite armazenar coisas e separar dois espaços. Dessa forma, podemos ter um escritório em casa que possa ser ‘dobrado’ ou que pode ser estendido. É algo que resolve um problema e também fornece um certo nível de isolamento visual e acústico”, explica ela.
Condomínios de luxo crescem
No Brasil, o fenômeno ganhou amplitude com o home office, elevando o número de pessoas que trabalham em casa de 3,8 milhões (antes da pandemia) para atuais 8 milhões. Essa turma, afinal, quer conforto para a labuta diária. Dados do Grupo ZAP, responsável por marcas como ZAP, Viva Real e Conecta Imobi, indicam o aumento de 340% na busca por imóveis no interior de São Paulo desde que o novo coronavírus chegou ao país. Residências maiores são uma tendência visível no mercado imobiliário. Segundo o site Imovelweb, as pesquisas feitas em maio por apartamentos com varanda dispararam 128% em relação ao mesmo mês do ano passado. Residências com quintal também estão na mira de um número crescente de pessoas, com alta de 96% na mesma base de comparação.
Serviços de cabeleireiro e manicure em casa, professores particulares para as crianças com atividades lúdicas, esportivas e escolares.
Treinadores para ginástica ou meditação também são buscados pelas classes mais altas por preços exorbitantes, segundo o New York Times.
Estamos tentando ser pessoas melhores…
A pandemia de coronavírus trouxe muitos desafios para as pessoas. Mas, a partir desse cenário, surgiram também novos hábitos.
Aulas, cursos e treinamentos on-line entram nessa lista. Seja para buscar novos conhecimentos, melhorar suas habilidades no trabalho nesse momento de crise financeira ou até mesmo para driblar o tédio trazido pelo isolamento social. Além disso, muitos começaram a praticar atividades físicas novas e a adaptar os treinos e casa.
A Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) registrou aumento de 50% nas vendas de maio, na comparação com o mesmo período do ano passado.
A Semexe, site de compra e venda de bicicletas e acessórios para ciclistas, viu seu faturamento crescer 223% entre março e maio deste ano. No mesmo período, o tráfego orgânico do site dobrou.
Um dos itens que puxaram o crescimento da startup foi o rolo de treino. O acessório mantém a bicicleta fixa e permite que o ciclista pedale dentro de casa. O equipamento é vendido a partir de R$ 500 e é uma alternativa encontrada por quem não quer deixar de se exercitar durante o período de isolamento social.
A busca pelo rolo foi tão grande que o produto esgotou e chegou a ter mais de 70 clientes na lista de espera.
Outras empresas como Caloi e Shimano também atestaram o aumento de suas vendas.
Meditar é preciso
Aplicativos de meditação guiada estão vendo um pico nos downloads. Por causa deste sucesso, repentino mas não inesperado, a App Store da Apple passou a apresentar uma seção de Meditação Guiada em sua página inicial, incentivando os usuários a “encontrar tempo para cuidar de si”.
Aplicativos como Calm e Headspace agora estão sendo instalados por pessoas do mundo inteiro. De acordo com o App Annie, um programa que rastreia downloads de aplicativos, o app Breethe subiu 31 posições no ranking de saúde e fitness na última semana, enquanto o BetterMe, outro aplicativo de meditação, saltou 70 pontos.
Deborah Hyun, vice-presidente de marketing global da Headspace, disse que o número de pessoas que concluíram a meditação “Estressada” aumentou 13 vezes em comparação aos 30 dias anteriores, e nove vezes mais pessoas concluíram a sessão “Reestruturando a ansiedade”
Se adaptando a novas formas de socializar
A demanda do Zoom cresceu cerca de 19 vezes em três meses. Segundo EricYuan, presidente executivo da Zoom, o serviço está sendo usado não só por pessoas comuns e empresas, mas também por escolas – mais de 90 mil colégios, em 20 países diferentes, estão utilizando a plataforma para realizar aulas pela internet.
Outras empresas também se deram bem nessa crise – caso do software corporativo de mensagens Slack e da Microsoft, dona do Microsoft Teams, que permite que equipes colaborem à distância, e do Skype.
E quando o assunto é relacionamento…
O Happn notou um aumento de 18% nas mensagens trocadas pelo aplicativo; o The Inner Circle teve um aumento de 15% nos matches e 10% nas mensagens enviadas; e o Par Perfeito registrou crescimento de 70% de novos usuários, um ganho de 20% no tempo médio gasto no aplicativo e site 15% de volume de mensagens trocadas desde o início de março.
“O interessante é que, pelo fato de os usuários não poderem se ver pessoalmente, eles passaram a interagir mais pelo app e a desenvolver conversas mais profundas, criando um maior vínculo afetivo. Uma enquete que fizemos com usuários do Happn no Brasil mostrou que 56% acreditam que o isolamento social permitiu conhecer melhor o seu crush. Além disso, 75% perceberam que o contexto os possibilitou se aprofundar em assuntos importantes”, diz Marina Ravinet, Head de brand e tendência da Happn.
Nos demos conta do outro
Entender que muitas pessoas não teriam como construir um espaço de proteção fez com que as doações no mundo todo explodissem.
Projetos como o Mães da Favela, criado pela CUFA (Central única das Favelas), mostrou a força do terceiro setor nesse momento de pandemia.
Diversas pessoas puderam contribuir sem sair de casa, através de meios digitais como bancos e sites de arrecadação.
Faça você mesmo (DIY)
Talvez a maior tendência dessa quarentena, o DIY veio pra ficar e vai de cozinhar até reformar a sua própria casa com a ajuda de tutoriais do YouTube.
Aliás, as buscas por receitas mais feitas no Google desde março foram: brownie, pizza, chocolate quente, esfiha, pão e pipoca doce.
Em março, o forno de assar pães foi o item mais vendido no Reino Unido, mostrando o quanto as pessoas estavam se preparando para a pandemia.
A influenciadora Rita Lobo fez mais de 50 lives desde o dia 23 de março, ensinando as pessoas a cozinharem coisas básicas como arroz e feijão diretamente da cozinha da sua casa, através da conta @panelinha_ritalobo.
Hannah McCann, professora da Universidade de Melbourne, na Austrália, especializada em temas como teoria feminista e cultura da beleza diz: “Manter seus rituais de beleza é uma forma de se sentir no controle”.
McCann também identificou, como tendências do momento atual, o aumento nas buscas por dicas caseiras de beleza e tutoriais para cortar o cabelo.
Segundo a pesquisadora, as pessoas não só estão se aventurando com o “faça você mesmo” como vêm adotando um comportamento mais livre, encarando essas experimentações como uma brincadeira. Há muitos cabelos sendo pintados de cores vibrantes e franjas tortas sendo compartilhadas no Instagram em um tom de autodepreciação bem-humorada.
Afinal, quais são as categorias relacionadas ao Cocooning?
- Construção civil
- Compra/aluguel de imóveis
- Fabricação de automóveis
- Fabricação de bicicletas e acessórios
- Móveis e móveis planejados
- Fabricação de alimentos
- Fabricação de eletrodomésticos
- Serviços in-home (cabelereiro, manicure, massagem)
- Aplicativos (namoro, yoga, ginástica, meditação)
- Cursos on-line
- Fabricantes da área de cosméticos e perfumaria.
E aí, você acredita que essa tendência veio pra ficar?